Electrolux compra divisão de eletrodomésticos da General Electric por US$ 3,3 bi
Sueca fará pagamento em dinheiro pelo negócio centenário da gigante americana
Andrea Freitas, com El País e Bloomberg News
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08/09/0969756783:40 / Atualizado em 08/09/0969756783:28
RIO, NOVA YORK, LONDRES E ESTOCOLMO – A americana General Electric (GE) não detém mais seu centenário negócio de eletrodomésticos. Essa divisão foi vendida à sueca Electrolux, por US$ 3,3 bilhões em dinheiro, na maior aquisição da companhia europeia. A manobra permitirá reduzir a distância da americana Whirlpool — que no Brasil é dona das marcas Brastemp e Consul na América do Norte.
A oferta da Electrolux pela divisão de eletrodomésticos, unindo marcas como Hotpoint, Frigidaire e Zanussi, começou ainda no primeiro semestre. Seus produtos são comuns en todos os lares americanos desde que lançou sua primeira torradeira, em 1905. A unidade de produtos para o lar emprega 12 mil pessoas e gera uma receita anual para o conglomerado de US$ 5,7 bilhões. Hoje, no entanto, esse montante representa apenas 4% das cifras de negócio de todo o grupo.
Enquanto a GE tentava se desfazer da divisão de eletrodomésticos há anos, a Electrolux busca expandir seu negócio para além da Europa, onde as vendas se esfriaram nos últimos anos devido à recessão e por se tratar de um mercado maduro. A empresa também está de olho nos mercados emergentes, onde a demanda cresce rapidamente devido à expansão da classe média.
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Perguntada pelo GLOBO sobre o impacto do negócio nas operações e no atendimento ao consumidor das duas marcas no Brasil, a Electrolux informou que ainda é muito cedo para dizer como isso poderá afetar a empresa na América Latina, pois o acordo aguarda as aprovações regulatórias em vários mercados.
“No geral, essa mudança é estratégica e proporciona escala para acelerar nosso investimento em inovação para o consumidor e maior crescimento global lucrativo”, informou a empresa em nota.
Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste – Associação de Consumidores, diz que a tendência nestes casos, ao menos no início, é a manutenção da rede de atendimento ao consumidor. Segundo ela, qualquer modificação, deve ser informada com antecedência ao cliente:
– O consumidor não pode ficar desassistido. A prestação do serviço tem de ser mantida em sua totalidade. E se houver qualquer modificação na rede de assistência técnica ou nas condições de atendimento no pós-venda, os clientes devem ser informados – destacou Maria Inês.
O mercado de eletrodomésticos está cada vez mais competitivo e a concentração está se convertendo em um passo-chave para o crescimento. Para que Electrolux possa ser um ator global de peso, também é preciso ser um grande player nos EUA. Com a compra da GE vai elevar seu tamanho em um terço e sua carteira de produtos vai reforçar seu balanço.
As vendas da Electrolux na América do Norte cresceram para US$ 4,5 bilhões no ano passado, representando 30% de sua receita global. A partir de agora, a empresa controlará 40% das vendas de eletrodomésticos no continente, assim como a Whirlpool. A companhia sueca utilizará durante quatro décadas a marca GE Appliances, uma das mais reconhecidas pelo consumidor americano.
“Os eletrodomésticos Premium e de alta qualidade da GE complementam nossas próprias marcas icônicas e irão reforçar a nossa presença na América do Norte”, disse Keith McLoughlin, presidente e diretor executivo da Electrolux. “A aquisição, que a maior de nossa história, fortalece o nosso compromisso com o negócio de eletrodomésticos e também proporciona à Electrolux a escala e a oportunidade para acelerar os investimentos em inovação e crescimento global.”
O negócio transforma a Electrolux “em um grande ator que pode obter vantagem graças a sinergias”, afirmou David Jacobsson Cederberg, analista da Pareto Securities. A empresa sueca prevê uma economia anual de cerca de US$ 300 milhões com a aquisição. Além de ampliar a presença da Electrolux na América do Norte, onde a GE Appliance gera mais de 90% de sua receita, a aquisição vai dar à sueca uma fatia de 48,4% da mexicana Mabe.
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Já a GE, que cada vez mais se afasta do consumidor final, está imersa em um longo processo de transformação, que começou após a crise econômica mundial. A companhia está vendendo as unidades menos rentáveis e se concentrando naquelas em que tem mais oportunidades, como infraestrutura e tecnologia. Recentemente, fechou uma aliança com a Alstom, uma das joias industriais da França.
A mudança foi impulsionada pelo diretor executivo da GE, Jeff Immelt, que se desfez de divisões como seguradoras, plásticos e mídia para simplificar a companhia em torno de operações industriais que os investidores valorizam mais, destaca o “Wall Street Journal”. O resultado é que um terço de sua receita e lucro vem de negócios relacionados ao setor de energia.
Ainda de acordo com o “WSJ”, os eletrodomésticos da GE formaram uma ligação sólida entre os consumidores americanos e uma das mais antigas e maiores empresas industriais do país. Fogão, rádio relógio e micro-ondas foram alvo de campanhas publicitárias da empresa na TV, prometendo “trazer coisas boas para a vida”. A companhia também ajudou a impulsionar o movimento da GE no mercado de empréstimos. Durante a Depressão, a empresa criou o GE Credit Corporation para ajudar a financiar a venda de seus aparelhos.
— A GE é uma empresa de alta tecnologia de infraestrutura, que é o que somos hoje — disse Immelt em uma recente entrevista, segundo o “WSJ”, referindo-se ao destino da unidade de eletrodomésticos. — Nós não somos realmente uma empresa de produtos de consumo. Somos uma empresa de infraestrutura de alta tecnologia.
A aquisição, destacam analistas do setor, dará à empresa sueca muito peso no mercado da América Latina. As receitas globais da Electrolux passarão de US$ 22,5 bilhões quando completar a compra da GE Appliances. A operação foi anunciada apenas dois meses depois de a Whirlpool comprar a italiana Indesit por € 758 milhões (US$ 981 milhões). Juntas, as duas registraram uma receita de US$ 22,3 bilhões no ano passado.
Segundo a Electrolux, o negócio está sujeito à aprovação de órgãos reguladores. E, de acordo com analistas do Swedbank, não há garantia para tal aval, devido ao significativo crescimento da empresa no mercado americano. A conclusão da aquisição está prevista para 2015. [external_footer]